domingo, 10 de outubro de 2010

Domingo - Minha autoria

Como todos os domingos, acordo cedo da manhã e abro a janela do meu quarto. Ouço o cantar um tanto quanto misturado dos pássaros, identificando apenas que, entre eles há um canário do império, pois desde menino escuto seu cantar por estes lados. Saudades daquela infância onde tudo era alegria, desconhecia as dores do mundo que hoje dormem em minha alma. Levanto-me, e olho-me no espelho. No rosto, as marcas de sofrimento, tristeza causadas pelo tempo. O que foi feito do brilho dos olhos e do sorriso de criança? Não sei! Talvez, como a alegria e esperança da adolescência, tenham se perdido por estes tempos; ou será que isso pertence apenas às crianças? Sim, porque a elas pertencem todos os sentimentos mais bonitos e sinceros do mundo.
Visto-me, como se esperasse aquele convite que sei que jamais virá (mas que mal há nisso, pois o fiz sem interesse algum?). Do quarto, vejo meus livros, papeis, computador, todos chamando-me para mais um dia de trabalho. Em mim, trava-se uma grande batalha entre o ir ou não, tornando-me um caixa de dúvidas, das quais tenho a mesma resposta de sempre. De súbito, recordo-me: "hoje é domingo!". Passo a olhar para o terraço, para a rede que se põe a me convidar a ver o mundo. Deito-me nela e, embalado pela música, ponho-me a sonhar outra vez! Sonho com meus irmãos e amigos, alguns ainda entre nós, outros não; todos a dançar e a rir, o que me alegra de veras. Ah, se eu pudesse todos os dias deixar um pouco desta alegria na casa deles, para espantar os dissabores e tristezas que se fazem aqui! Ah, como seria feliz, pois não há prêmio maior do que ver quem gostamos felizes! Vão se indo todos, um à um, para suas casas... E eu aqui! Sozinho? não! Sinto-me um pegar doce e singelo em minha mão.
Jamais esperava que você viesse, disse-lhe! Sem responder-me, dirigiu minha cabeça a seu colo e acarinhou-a ternamente até o fim da música, fazendo-me sentir o mais feliz dos homens, pois foi a mulher a quem mais amei na vida, até mais do que a mim mesmo. O disco termina, e, mais uma vez, o destino faz com que ela se vá... Continuo a domir na rede...
E assim segue-se o meu dia, até acordar para o mundo outra vez...
Levanto-me e acendo o lânguido cigarro da tristeza, consumindo-o num misto de revolta e resignação, pois nada disto foi real, mas nada é possível fazer para mudar a realidade que me cerca, pois voltar no tempo também é sonho, distante da realidade...
Sei que a maior mentira que podemos contar é aquela dita a nós mesmos, mas, não acho que dizer que tenho esperança de que um pouco do que tenho sonhado possa acontecer, para que tenha em mim que tudo isso não foi em vão...