domingo, 5 de dezembro de 2010

José Saramago - três poemas

Caros amigos, bom dia!

Os meus muitos trabalhos tem, em razão da imensa demanda, me impedido de realizar novas postagens, inclusive, com textos meus. Hoje, me vi lendo "Ensaios sobre a cegueira", que se encontra aqui, mas nunca o li; de igual forma, "Caim" e "A viagem do elefante", todas obras do José Saramago, cuja obra dispensa qualquer comentário. Em homenagem ao grande escritor e a minha omissão em ler os referidos títulos, posto, adiante, três poemas de sua autoria:
Arte de Amar
Metidos nesta pele que nos refuta,
Dois somos, o mesmo que inimigos.
Grande coisa, afinal, é o suor
(Assim já o diziam os antigos):
Sem ele, a vida não seria luta,
Nem o amor amor.
Teu corpo de terra e água
Teu corpo de terra e água
Onde a quilha do meu barco
Onde a relha do arado
Abrem rotas e caminho.
Teu ventre de seivas brancas
Tuas rosas paralelas
Tuas colunas teu centro
Teu fogo de verde pinho
Tua boca verdadeira
Teu destino minha alma
Tua balança de prata
Teus olhos de mel e vinho
Bem que o mundo não seria
Se o nosso amor lhe faltasse
Mas as manhãs que não temos
São nossos lençóis de linho
No coração talvez
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração
Um abraço e um feliz domingo a todos!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ampulheta

Na areia que se esvai,
sinto, sem o ver ou notar
Que o meu tempo se vai
sem ter como o cessar.

Na contagem dos minutos,
Vejo as mudanças em tudo.
De ti recordo os absurdos,
que me deixaram mudo.

Por que não posso recordar,
O que tens contra mim, vida
que não deixa-me mais amar.

Resta-me na parede te jogar,
para que, como o tempo, pares
para assim, outra vez, sonhar...

Com um futuro risonho, como o sorriso da criança em festa...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Morte no avião - Carlos Drummond de Andrade

Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um dia cortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua.
Vou morrer.
Não morrerei agora.
Um dia inteiro se desata à minha frente.
Um dia como é longo. Quantos passos na rua, que atravesso.
E quantas coisas no tempo, acumuladas.
Sem reparar,
sigo meu caminho.
Muitas faces
comprimem-se no caderno de notas.
Visito o banco.
Para que esse dinheiro azul se algumas horas
mais, vem a polícia retirá-lo do que foi meu peito e está aberto?
Mas não me vejo cortado e ensangüentado.
Estou limpo, claro, nítido, estival.
Não obstante caminho para a morte.
Passo nos escritórios.
Nos espelhos, nas mãos que apertam, nos olhos míopes,
nas bocas que sorriem ou simplesmente falam eu desfilo.
Não me despeço, de nada sei, não temo:
a morte dissimula seu bafo e sua tática.
Almoço. Para quê?
Almoço um peixe em outro e creme.
É meu último peixe em meu último garfo.
A boca distingue, escolhe, julga,
absorve.
Passa música no doce, um arrepio de violino ou vento, não sei. Não é a morte.
É o sol. Os bondes cheios. O trabalho.
Estou na cidade grande e sou um homem na engrenagem.
Tenho pressa. Vou morrer.
Peço passagem aos lentos. Não olho os cafés que retinem xícaras e anedotas,
como não olho o muro de velho hospital em sombra.
Nem os cartazes.
Tenho pressa.
Compro um jornal.
É pressa,
embora vá morrer.
O dia na sua metade já rota não me avisa
que começo também a acabar. Estou cansado.
Queria dormir, mas os preparativos. O telefone.
A fatura. A carta. Faço mil coisas
que criarão outras mil, aqui, além, nos Estados Unidos.
Comprometo-me ao extremo, combino encontros a que nunca irei, pronuncio palavras vãs,
minto dizendo: até amanhã.
Pois não haverá.
Declino a tarde, minha cabeça dói, defendo-me,
a mão estende um comprimido: a água
afoga a menos que dor, a mosca, o zumbido...
Disso não morrerei: a morte engana,
como um jogador de futebol a morte engana,
como os caixeiros escolhe meticulosa, entre doenças e desastres.
Ainda não é a morte, é a sombra
sobre edifícios fatigados, pausa
entre duas corridas.
Desfale o comércio de atacado,
vão repousar os engenheiros, os funcionários, os pedreiros.
Mas continuam vigilantes os motoristas, os garçons,
mil outras profissões noturnas.
A cidade muda de mão, num golpe.
Volto à casa. De novo me limpo.
Que os cabelos se apresentem ordenado
que as unhas não lembrem a antiga criança rebelde.
A roupa sem pó. A mala sintética.
Fecho meu quarto. Fecho minha vida.
O elevador me fecha. Estou sereno.
Pela última vez miro a cidade.
Ainda posso decidir, adiar a morte,
não tomar esse carro. Não seguir para.
Posso voltar, dizer: amigos,
esqueci um papel, não há viagem,
ir ao cassino, ler um livro.
Mas tomo o carro. Indico o lugar onde algo espera.
O campo. Refletores.
Passo entre mármores, vidro, aço cromado.
Subo uma escada. Curvo-me. Penetro no interior da morte.
A morte dispôs poltronas para o conforto da espera.
Aqui se encontramos que vão morrer e não sabem.
Jornais, café, chicletes, algodão para o ouvido,
pequenos serviços cercam de delicadeza
nossos corpos amarrados.
Vamos morrer, já não é apenas
meu fim particular e limitado,
somos vinte a ser destruídos,
morreremos vinte,
vinte nos espatifaremos, é agora.
Ou quase. Primeiro a morte particular,
restrita, silenciosa, do indivíduo.
Morro secretamente e sem dor,
para viver apenas como pedaço de vinte,
e me incorporo todos os pedaços
dos que igualmente vão perecendo calados.
Somos um em vinte, ramalhete dos sopros robustos prestes a desfazer-se.
E pairamos,
frigidamente pairamos sobre os negócios
e os amores da região.
Ruas de brinquedo se desmancham,
luzes se abafam; apenas colchão de nuvens, mortes se dissolvem,
apenas um tubo de frio roça meus ouvidos,
um tubo que se obtura: e dentro da caixa iluminada e tépida
vivemos em conforto e solidão e calma e nada.
Vivo meu instante final e é como se vivesse há muitos anos antes e depois de hoje,
uma contínua vida irrefrável,
onde não houvesse pausas, sonos,
tão macia na noite é esta máquina e tão facilmente ela corta blocos cade vaz maiores de ar.
Sou vinte na máquina que suavemente respira,
entre placas estelares e remotos sopros de terra,
sinto-me natural a milhares de metro de altura,
nem ave nem mito,
guardo consciência de meus poderes,
e sem mistificação eu vôo,
sou um corpo voante e conservo bolsos, relógios, unhas,
ligado à terra pela memória e pelo costume dos músculos,
carne em breve explodindo.
Ó brancura, serenidade sob a violênciada morte sem aviso prévio,
cautelosa, não obstante irreprimível aproximação de um perigo
golpe vibrado no ar, lâmina de vento no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia.

domingo, 10 de outubro de 2010

Domingo - Minha autoria

Como todos os domingos, acordo cedo da manhã e abro a janela do meu quarto. Ouço o cantar um tanto quanto misturado dos pássaros, identificando apenas que, entre eles há um canário do império, pois desde menino escuto seu cantar por estes lados. Saudades daquela infância onde tudo era alegria, desconhecia as dores do mundo que hoje dormem em minha alma. Levanto-me, e olho-me no espelho. No rosto, as marcas de sofrimento, tristeza causadas pelo tempo. O que foi feito do brilho dos olhos e do sorriso de criança? Não sei! Talvez, como a alegria e esperança da adolescência, tenham se perdido por estes tempos; ou será que isso pertence apenas às crianças? Sim, porque a elas pertencem todos os sentimentos mais bonitos e sinceros do mundo.
Visto-me, como se esperasse aquele convite que sei que jamais virá (mas que mal há nisso, pois o fiz sem interesse algum?). Do quarto, vejo meus livros, papeis, computador, todos chamando-me para mais um dia de trabalho. Em mim, trava-se uma grande batalha entre o ir ou não, tornando-me um caixa de dúvidas, das quais tenho a mesma resposta de sempre. De súbito, recordo-me: "hoje é domingo!". Passo a olhar para o terraço, para a rede que se põe a me convidar a ver o mundo. Deito-me nela e, embalado pela música, ponho-me a sonhar outra vez! Sonho com meus irmãos e amigos, alguns ainda entre nós, outros não; todos a dançar e a rir, o que me alegra de veras. Ah, se eu pudesse todos os dias deixar um pouco desta alegria na casa deles, para espantar os dissabores e tristezas que se fazem aqui! Ah, como seria feliz, pois não há prêmio maior do que ver quem gostamos felizes! Vão se indo todos, um à um, para suas casas... E eu aqui! Sozinho? não! Sinto-me um pegar doce e singelo em minha mão.
Jamais esperava que você viesse, disse-lhe! Sem responder-me, dirigiu minha cabeça a seu colo e acarinhou-a ternamente até o fim da música, fazendo-me sentir o mais feliz dos homens, pois foi a mulher a quem mais amei na vida, até mais do que a mim mesmo. O disco termina, e, mais uma vez, o destino faz com que ela se vá... Continuo a domir na rede...
E assim segue-se o meu dia, até acordar para o mundo outra vez...
Levanto-me e acendo o lânguido cigarro da tristeza, consumindo-o num misto de revolta e resignação, pois nada disto foi real, mas nada é possível fazer para mudar a realidade que me cerca, pois voltar no tempo também é sonho, distante da realidade...
Sei que a maior mentira que podemos contar é aquela dita a nós mesmos, mas, não acho que dizer que tenho esperança de que um pouco do que tenho sonhado possa acontecer, para que tenha em mim que tudo isso não foi em vão...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cruzou por mim - Fernando Pessoa

"Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha (exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
às normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser juiz do supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do álvaro de campos!
Tão isolado na vida! tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão.
Coitado do álvaro de campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! sou lúcido."

domingo, 19 de setembro de 2010

Música de qualidade para o domingo


Meus amigos,
Após dias sem postar, hoje o faço com grande satisfação; primeiramente, por ter achado este disco que foi perdido tem uns dois anos, o que me deixou muito chateado e, em segundo, por poder mais uma vez ouvir a maravilhosa voz destes ícones da bossa sempre nova: João Gilberto, Os Cariocas, Tom Jobim e o saudoso poetinha, Vinícius de Moraes.
Nesta obra, gravada no Restaurante au bon gourmet no ano de 1962, estes artistas apresentaram ao mundo muitas das músicas que até hoje são referências do movimento, como, por exemplo, Garota de Ipanema, Samba do Avião, O Astronauta e, finalmente, uma das músicas que tenho como das mais belas, que é Samba da Benção.
Ah, Samba da Benção para mim apresenta duas peculiaridades que, a grosso modo, se apresentam antagônicas entre si: riqueza na emoção e simplicidade nas palavras.
Para aqueles que não conhecem a música, esta é a letra:
Cantado
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Falado
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Cantado
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Falado
Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba
Cantado
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Falado
Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus
Cantado
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Além de ser a letra um grande ensinamento para a vida, ainda faz uma grande homenagem a grandes referências da música, sendo assim uma música perfeita.
Para os que quiserem ter o prazer de ouvir, este é o link: http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/86496/
Mas, voltando ao disco, tinha pensado em postar um endereço deste para download, mas, ao pesquisar tal possibilidade na própria net, encontrei diversas referências à notificações acerca da propriedade intelectual da obra, pelo que deixo de apresentar o link por estas razões; destaque-se que existem sites em que é possível encontrar a obra em apreço.
Um abraço a todos, e uma ótima semana!!

sábado, 11 de setembro de 2010

Das Kapital e a experiência sobre o modelo comunista: breves considerações

Antiga bandeira da DDR ou RDA- República Democrática da Alemanha
Sempre me interessei pelo estudo de economia política, especialmente no que concerne àqueles exemplos que apresentam oposições claras em suas bases, como as disparidades havidas entre o gigante capitalismo e o quase desaparecido comunismo, devendo-se destacar a maior atenção ao estudo do caso das antigas RDA - República Democrática da Alemanha, área de influência da antiga União Soviética e da RFA - República Federal da Alemanha, esta orientada pelos princípios do capitalismo seguidos pela França, Inglaterra e Estados Unidos, experiência ocorrida em país com condições econômicas e culturas semelhantes, o que permite, em meu entendimento, proceder com análise mais segura de fatos e entendimento dos resultados de cada um deles.
À princípio, acredito que vocês estranhem o momento em que abordo o tema, o que tinha vontade de fazer tem tempo, mas surgiu a oportunidade neste dia 11, pois num dia deste em 1867, Karl Marx e Frederich Engels apresentaram ao mundo a maior das obras comunistas da história: Das Kapital ou O Capital, de leitura obrigatória a todos os que habitavam os países que seguiam a orientação socialista.
Concomitantemente a isto, ouço hoje pela rádio Havana de Cuba (http://www.radiohc.cu/) discurso de Fidel Castro, onde desmentia a afirmação que teria dito em entrevista recente, de que o comunismo não funcionava mais em seu país, elementos que provocaram a realização destas considerações que passo a fazer adiante.
Em algum momento de minha adolescência, pensei que o modelo comunista podia ser a solução para a desigualdade social no mundo, mas, com o tempo passei a depurar a idéia e firmei o entendimento de que, em que pese se apresentar como sistema que se aproxima mais do ideal de distribuição de riquezas, tenho que este só teria sucesso se o homem não tivesse conhecido o modus vivendis que se mostra no capitalismo, que nos faz viver numa eterna competição egoística para possuir mais bens e valores, e, por conseguinte ter uma vida mais confortável.
Indubitavelmente é o socialismo útopico, senão ainda falariamos em URSS e RDA, que estariam ainda vivas entre nós; os que se mantiveram neste caminho, seja por interesses pessoais para perpetuar-se no poder e usufruir de suas benesses e possibilidades ou, como em países mais pobres e sem produtos relevantes para aqueles mais ricos, convivem com situações de pobreza absoluta na maioria de seus estados, departamentos ou províncias.
Voltemos ao caso das duas Alemanhas que, divididas, recomeçaram suas vidas em igual situação, pois se encontravam dilaceradas com as ações militares da segunda guerra, contudo seguindo diretrizes econômicas totalmente opostas.
De um lado, estava a Alemanha Ocidental (RFA), que se desenvolveu à passos largos e adquiriu significativo crescimento econômico sustentado, mesmo num regime predatório e selvagem como é o capitalista.
À sua vez, a Alemanha Oriental, com todo apoio, inclusive econômico, perdeu-se no tempo mais rapidamente, por ter tomado medidas equivocadas como a construção do famigerado Muro de Berlim, o que entendo ter incutido na população maior antipatia pelo regime posto.
O que é fato é que, diferentemente do que Erich Honecker, um dos mais duradouros presidentes daquele país pensava, o muro não resistiu pelos 100 anos de sua profecia, caindo junto com a matriz soviética.
Ainda lembro, como se fosse agora, quando o muro começou a cair...
Passados quase 2o anos do fato, a fração pertencente a antiga RDA ainda se recente deste atraso cruel decorrente das lentas e equivocadas medidas do governo, fazendo-me acreditar que nem mesmo os pioneiros seguidores do Kapital sabiam como iriam implementar e fazer seguir o que rezava a obra, bem como não fiscalizaram e puniram severamente aqueles verdadeiros inimigos do estado: os integrantes do poder que se aproveitaram das vantagens que este pode oferecer, o que seguramente colaborou com a descrença da população de ter a eqüidade como regra maior vigente entre todos, independendo da posição social que ocupavam, afinal, no regime socialista, tudo pertence ao povo, estes iguais em todas as circunstâncias.
Dizer que os ideais socialistas sucumbiram ao fracasso dos regimes é uma afirmação um tanto quanto equivocada, pois, encontramos nas economias capitalistas, como a nossa, instrumentos que buscam reduzir as desigualdades sociais, a partir do método de redistribuição de renda (p.ex. bolsa-família) e de programas sociais outros, como o Fundo de Habitação de Interesse Social, que se baseia na relocação de famílias que não possuem casa ou que moram em casas de taipa para casas de alvenaria.
Destaque-se que tais medidas pertencem aos dois últimos governos, pois um criou e o outro ampliou e o manteve, para que não se tenha na assertiva qualquer cunho eleitoral.
Ser socialista, hoje, não é seguir a risca os ditames do livro vermelho, mas fazer com que o dinheiro do capitalismo também possa chegar àqueles que não estão inseridos e que restam prejudicados pelos passos agigantados do sistema.
Fazer socialismo, é fazer justiça social, mesmo que não estejamos num regime caracteristicamente comunista.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O verde e a cidade, e outras palavras...

Meus amigos,

Depois de dias atribulados, parece-me que um prenúncio de mar de almirante vem se fazendo aparecer para estes próximos dias... Tanto é que estou podendo me dar ao luxo de escrever uma meia dúzia de palavras para vocês.
Hoje, tratarei de um assunto que sempre me preocupou bastante: o pensar a cidade em que estamos para que possamos vislumbrar idéias que melhorem nossa qualidade de vida.
Por coincidência do destino, o tema cruzou-se com o as letras neste ano, mas, de fruto, apenas este texto, mas por enquanto. Ainda hoje vi o rascunho de "lá vai o Rio Una", artigo que iniciei que versava sobre as enchentes nos municípios da zona da mata e a omissão do estado em cumprir seu papel de regulador da utilização dos espaços públicos, uma vez que o Estatuto da Cidade, os Planos Diretores, Leis de Uso e Ocupação do Solo se encontram a disposição da administração pública para as intervenções devidas e a correção destes problemas.
Eis que o tema reaparece numa reunião na ACL - Academia Camarajibense de Letras, através da exposição de uma formanda da respeitável Universidade Federal de Pernambuco, que nos apresentou um projeto para a construção de um parque na Vila da Fábrica, parque industrial que se encontra sem utilização nesta ocasião, com o risco da área ser vendida a iniciativa privada para a construção de conjuntos habitacionais.
De logo, encampei a idéia, pois é fato notório que o município de Camaragibe é extremamente carente de espaços públicos como o proposto, devendo-se destacar que no projeto, há referência à construção de teatro municipal, o que não encontramos na cidade, em que pese todo o verde que encontramos nos bairros, principalmente no rincão de Aldeia e adjacências, local em que quero fixar residência no futuro, pois apresenta, ainda, uma extraordinária qualidade de vida. diferentemente da capital, que a cada dia mais perde o seu verde com as construções dos espigões de concreto em todos os bairros.
Proposta por mim a moção de apoio, esta foi aceita, por unânimidade por meus pares, ficando sob minha responsabilidade de redigir tal texto, cujo teor me reservo ao direito de apresentar após a votação acerca de seu conteúdo.
Espero ter sucesso nesta nova tarefa!
Hoje, estou saíndo de licença mos proximos dias, voltando na próxima terça.
Bom feriado!

sábado, 21 de agosto de 2010

Convite - João Chaves e Michel Foucault



Caros Amigos,

É com a satisfação de ver nascer mais uma obra litéraria de qualidade, que se faz maior em razão de ser o autor um irmão que a vida me ofertou a oportunidade de ter, que vos convido a comparecer, em conjunto com Editora Juruá e o Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Católica de Pernambuco, para a palestra de lançamento do livro O problema do direito em Michel Foucault – entre imagens jurídicas e a proposta de um direito novo, de autoria do Professor João Freitas de Castro Chaves.

Data: 30 de agosto de 2010 (segunda-feira)
Horário: 18 horas e 30 minutos
Local: Universidade Católica de Pernambuco
Auditório G1 (1º andar), Bloco G
Rua do Príncipe, 526, Boa Vista, Recife-PE

Um forte abraço,
Paulo Feitosa

Convite eletrônico anexo. Favor repassar para redes sociais.
http://www.direitoesubjetividade.wordpress.com

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Poema meu - A via crucis da esperança

Amigos, bom dia!

Hoje, atrevo-me a postar mais um poema meu, chamado "via crucis da esperança", onde se fez uma rápida reflexão sobre as fases da vida passadas nesta existência, confrontando-se a dolorosa realidade da vida com o a esperança pelo sortilégio da felicidade.
Um abraço!
É o poema:
"VIA CRUCIS DA ESPERANÇA
Quando era menino,
Achava que o mundo
Não tinha nem meio,
Nem Fim, nem início.

Invencível o era sim,
Por sua eterna alegria,
Infinita o era assim,
Sempre em mim havia.

Passa-se o tempo, mudamos todos...

Quando era adolescente,
Vi a roda da vida girar.
E via em minha frente,
As ilusões a me enganar.

O querer fazer tudo,
Sem ter como poder.
Numa luta desigual,
Daquele com o fazer.

E a mudança, nos faz ver tudo claramente...

Quando me acordo adulto,
Vejo com nitidez doentia.
Que a existência é insulto,
Aos sonhos que eu tinha.

Coração despedaçado,
Esperanças frustradas.
Desejo dilacerado,
Alegrias dizimadas.

Será que não teremos o direito de sonhar?

Quem sabe um milagre,
Um momento feliz.
Um sorriso se deflagre,
Tudo que sempre quis.

A esperar o sortilégio,
Estou eu aqui assim.
A cometer este sacrilégio,
A esperar o dia do fim.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cartas ao mundo - Aniversário

Meus amigos,

Antecipadamente, quero agradecer-lhes pelas lembranças pela passagem de meu aniversário, data que não tem me agradado tem um bom tempo, pois, a esta altura, muitos daqueles que fazem parte de nossa vida já estão com uma certa idade, além de nós mesmos, que passamos a assumir às incumbências inerentes à esta fase de vida...
Esse sentimento, de logo, associou-se ao de Álvaro de Campos, uma das "faces" de Fernando Pessoa, que passo a apresentar a vocês:
"ANIVERSÁRIO

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..."
Tudo isso me fez lembrar da época de menino até a adolescência... E tem sido assim...
Pessoas queridas indo embora, outras envelhecendo... E eu também...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos nunca mais foi o mesmo, mas, ainda assim, não posso me queixar, pois, apesar de tudo, outros amigos vêm chegando para fazer tão melhor quanto o dia dos meus anos...
Um abraço e, mais uma vez, obrigado.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ensaios do Exílio - "O vento varria tudo"...


Ah, minha querida vozinha, não podia deixar de lhe encontrar, apesar de jamais ter estado contigo em qualquer dia nove de agosto que fosse... Apesar de ter querido muito, mas muito ter estado presente nessas datas. Ainda assim, sei que para ti estive presente em todos esses momentos, assim como nos menos onzes de agosto que se passaram enquanto estivesses conosco.
O que posso dizer, hoje e nos dias onze que virão, é que um dos maiores presentes da minha vida foi podido ser seu neto, mesmo que tão distante, o que jamais me fez esquecer das oportunidades em que estivemos juntos... Cantando aquelas músicas antigas (inclusive "camisa listrada"), rindo das graças alheias, quando a senhora dizia: "é louco", quando a senhora juntava as mãos e soltava aquelas suas famosíssimas notas sobre alguém ou quando chegava alguém indesejável, se limitava a responder o famoso chavão: "pois é" e de quando assistíamos os bonecos na televisão, todos os dias, à tarde, e me dizia: "horrível" (imagine agora que tem um boneco chamado Feitosa)... Mas, impossível esquecer do "deus que lhe dê boa sorte"...
Mas, como disse o poema, "o vento varria tudo, e a minha vida ficava cada vez mais cheia de tudo".... Principalmente de saudades e lembranças... Apesar de não estares mais conosco é como se estivesses em todos os lugares... Sempre...


sábado, 7 de agosto de 2010

Outra vez, Bandeira...

Canção do vento e da minha vida

"O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...

E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...

E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...

E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.

O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!

E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo."

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Algumas palavras...


Painel com fotos que participaram do concurso da Radio France Internacional
Caros amigos, bom dia!
Depois de uma semana sem postar, em razão do muito trabalho que sempre tenho, volto, mesmo que à "passos de elefante" para o convívio de vocês por este blog.
Inicialmente, gostaria de fazer referência ao painel de fotos que vos apresento nesta ocasião. As fotos em apreço participaram do concurso fotográfico "represente sua cidade ou estado", promovido pela Rádio France Internacional, onde me inscrevi com duas fotos do sertão cearense que serão facilmente reconhecidas, pois já foram postadas neste blog recentemente. Nesta ocasião, quero felicitar os vencedores do concurso, em especial a fotógrafa paraibana que venceu nos dois últimos lugares. A galeria completa se encontra neste link: http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20100801-correio-dos-ouvintes-para-o-brasil.
Passando de um pólo a outro, quero dizer algumas palavras para depois fazer um pedido aos amigos.
Muitos me tem repassado diversos emails maldizendo o candidato "a" ou a candidata "b", o que tem incomodado bastante, pois perco muito tempo separando os emails que devo ou não ler, dentre estes, os que apresentam o aludido teor. Em sendo assim, não envio emails com tal cunho já tem um bom tempo, justamente para não fazê-los ter o prejuízo que tenho ultimamente. Por isso, fica meu pedido.
Hora de voltar ao trabalho!
Um abraço

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vladmir Maiakoviski - tu e comumente é assim

Meus amigos,

Tive a oportunidade de reler, nesta semana, um dos meus velhos livros de poesia; este, de autoria do poeta russo Vladmir Maiakoviski. Maiakovisk foi um "poeta de resistência" conta o regime leninista que inicialmente apoiou, mas que desiludiu-se com seus rumos, o que teria lhe levado a desistir da vida em 1936 (apesar de algumas referências informarem que este teria sido eliminado pelo regime).
A essência política é característica marcante de sua obra, mas também escrevera sobre o velho tema, textos pouco difundidos, mas de uma beleza singular por sua construção e que certamente serão do agrado de todos.
Um ótimo dia!
TU
Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
e simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhorias exclamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu júbilo esqueci o julgo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve, tão bem me sentia.
COMUMENTE É ASSIM
Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso, nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém imbecilmente inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar.
Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Poesia minha - A tua ausência

Bom dia!

Caros amigos,

Hoje quero apresentar-lhes poema de minha autoria, que inspirou-se nas histórias dos personagens românticos criados pelos escritores que sempre leio, mas que também, em certos momentos de nossa vida, se confundem com nossa história, o que talvez não se aplique, de todo, ao enredo deste que vos escreve; em que pese achar-me que não.

O soneto livre em tela, é uma resposta ao próprio personagem que "espanca" o coração e todos os sentimentos guardados, tentando minimizar assim o desprezo que o destino o fez sofrer: a ausência da amada, tendo que aceitar sua posição, sem nada poder fazer.

Sem mais, um abraço e uma semana bastante feliz e produtiva.

"A tua ausência


Quando te encontrei, pensei que eterna serias,

que vinhas para acabar com esta minha solidão.

Como se fosses o sol mais lindo de todos os dias,

mas, na verdade, não passastes de doce ilusão.


Confesso que, tuas palavras, sorriso e paz,

Fizeram-me ver, outra vez, alegria na vida.

Mas, como não era de ser, meu coração jaz,

Seguindo assim no caminho, desde sua ida.


Dizer que te esqueci? Se inesquecível és!

Resta me enganar o coração, dia-a-dia,

Para fazer-lhe descrente de todas às fés.

Mas a tua ausência, meu bem querer,

fez saber que sempre o velho coração,

Tornará da escuridão e voltará a viver...

Como sempre o fez... "

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Manuel Bandeira - Mascarada e Maysa


Caros amigos,

Continuo com a vida bastante atribulada, por isso, para homenagear sua leitura neste blog, continuo a postar textos de grandes autores. Nesta ocasião, posto dois poemas de Manuel Bandeira, escritor pernambucano que dispensa qualquer comentário acerca de sua obra. O primeiro, é "mascarada", onde encontramos uma bela construção de texto; o segundo, "Maysa", onde faz uma referência a cantora Maysa, cuja história foi narrada recentemente pela televisão.

Um Abraço

MASCARADA

Você me conhece?


(Frase dos mascarados de antigamente)



- Você me conhece?


- Não conheço não.


- Ah como fui bela!


Tive grandes olhos,


Que a paixão dos homens


(Estranha paixão!)


Fazia maiores,


Fazia infinitos...


Diz: não me conheces?


- Não conheço não.

- Se eu falava, um mundo


Irreal se abria


À tua visão!


Tu não me escutavas:


Perdido ficavas


Na noite sem fundo


Do que eu te dizia...


Era a minha fala


Canto e persuasão...


Pois não me conheces?


- Não conheço não.



- Choraste em meus braços...


- Não me lembro não.





- Por mim quantas vezes


O sono perdeste


E ciúmes atrozes


Te despedaçaram!


Por mim quantas vezes


Quase tu mataste,


Quase te mataste,


Quase te mataram!


Agora me fitas


E não me conheces?...


- Não conheço não.


Conheço é que a vida


É sonho, ilusão.


Conheço é que a vida,


A vida é traição.





Para ouvir: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=7373





MAYSA





Um dia pensei um poema para Maysa


“Maysa não é isso


Maysa não é aquilo


Como é então que Maysa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza?



Muito simplesmente


Maysa não é isso mas Maysa tem aquilo


Maysa não é aquilo mas Maysa tem isto


Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não-Pacíficos
A boca de Maysa é isto isso e aquilo


Quem fala mais em Maysa a boca ou os olhos?


Os olhos e a boca de Maysa se entendem os olhos dizem uma coisa e a boca de Maysa se condói se contrai se contorce como a ostra viva em que se pingou uma gota de limão


A boca de Maysa escanteia e os olhos de Maysa ficam sérios


Meu Deus como os olhos de Maysa podem ser sérios e como a boca de Maysa pode ser amarga!

Boca da noite (mas de repente alvorece num sorriso infantil e nefano)”
Cacei imagens delirantes


Maysa podia não gostar


Cassei o poema.
Maysa reapareceu depois de longa ausência


Maysa emagreceu


Está melhor assim?
Nem melhor nem pior


Maysa não é um corpo


Maysa são dois olhos e uma boca


Essa é a Maysa da televisão


A Maysa que canta


A outra eu não conheço não


Não conheço de todo


Mas mando um beijo para ela.





Para ouvir: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=7372

domingo, 18 de julho de 2010

O leitor - Maximiano Campos


Meus amigos,

Neste últimos dias, o trabalho tem sorvido toda a possibilidade de criar da mente, razão pela qual não tenho postado textos meus para vocês. Por ainda encontrar-me nesta fase, apresento-os, um dos textos que tenho como de uns mais belos e perfeitos retratos de um personagem, mais uma vez, de autoria do meu patrono na ACL, Maximiano Campos.
Um abraço!

É o texto:


O Leitor


Queria que alguém lesse o conto que escrevi. Não encontrei nenhuma pessoa disposta a lê-lo, nem a ouvi-lo lido por mim. E, naquelas poucas páginas, não havia apenas um conto, somente uma história. Havia um grito de dor transformado numa canção, que só chegava a ser um pedido de socorro porque ainda restava, apesar de tudo, um certo orgulho velando a minha desbarata coragem.
Naquela manhã, com as páginas colocadas no bolso do paletó poído e desbotado, saí à procura de um leitor. Eu buscava alguma alegria e, por isso, não perdera a delicadeza de sentir as sentenças do tribunal dos meus remorsos. Ainda me considerava capaz e merecedor de sentir o mínimo de alegria compatível com o meu desejo de não ser um mero cultivador de amarguras. Eu era pobre, muito pobre, de bens materiais. No jogo da vida, na mesa do mundo, sem enxergar e distinguir bem os adversários, eu colocara todas as fichas no poder do sonho, já que não sou muito afinado com a realidade. Os adversários estavam me vencendo com demasiada facilidade; isso era por demais evidente na minha solidão.
Ao sair à rua, após deixar o meu pobre quarto, onde havia apenas uma velha cama e alguns livros, notei que a janela que se abria para a rua era pintada de um azul esmaiecido pelo tempo, pelo sol, pela chuva. Naquela cidade, eu havia nascido. Nos escombros da sua história, havia sangue e suor dos meus antepassados. Naquela cidade, capital de muitos contrastes, palco imenso para a tragédia, o drama, a comédia ou a farsa da minha vida, eu não encontrava nenhum espectador disposto a me incentivar com qualquer tipo de aplauso.
Eu tenho um emprego muito modesto, que mal dá para pagar o aluguel do quarto e não morrer de fome. Mas da pobreza não me queixo. Ela é a realidade que não considero essencial para conservar a minha vontade de viver. Tenho quarenta anos e escrevi quarenta histórias. Quarenta anos, quarenta histórias escritas, e mais de quatrocentos sonhos para colocar no papel e resgatar minhas dívidas comigo mesmo e com o mundo, este enorme asilo de realidades e sonhos, belezas e feiúras, desesperadas alegrias e tristezas, onde se debatem os homens à procura de um sentido que os justifique na vida e na morte.
Para quem iria ler o meu conto? Para o mendigo, a prostituta, a criança abandonada, o operário, o boêmio, o escritor conhecido, o ricaço, a mulher amada?
Ah! Sim, eu amava desesperadamente uma mulher. Certo dia, ela me declarou que já não me amava, pediu-me que desaparecesse da sua vida. Para dizer a verdade, eu ainda amo esta mulher. Ela era extraordinariamente bela, jovem, alegre, fútil, arredia às minhas tristezas e à capacidade de enxergar a minha caravana de sonhos. Essa mulher, por quem tenho grande respeito e indiscutível amor, foi minha amante durante três anos. Nessa época, eu tinha pouco mais de vinte anos. Faz muito tempo, portanto, que já não a tenho ao meu lado. Resolvi procurá-la. Iria relembrar a ela as noites de desesperado amor. Iria tentar rever aquele corpo, um poço de onde retirei tanto gozo e beleza, para não falar em alguns instantes de verdadeiro êxtase.
“Maria, estou indo a sua casa. Maria, desta vez você vai me ouvir, tem que me salvar desta intolerável solidão. Maria, você vai ouvir, ou ler, o que escrevi pensando em você. Diga o que disser, não terei fracassado se você consentir em ouvir ou ler as três páginas que escrevi para você. Maria, você escute, ouça esta história.”
Saí falando alto, cada vez mais alto, para o espanto de alguns passantes: “Sou um domador de sonhos. Sou o guardião de uma loucura mansa, um profeta sem seguidores. Sou um revoltado contra as ditaduras que cultivam a tortura e que afogam todas as liberdades nas águas sujas de todas as moedas do mundo. Sou livre porque não temo arriscar a vida. Sou o palhaço que zomba das próprias desventuras. Sou herói de todas as guerras e há muito que me sinto incapacitado para a paz que não conquistei. Sou um contemporâneo de todos vocês, um contemporâneo de um tempo difícil que serve de pasto para servidões que só serão vencidas com o poder do sonho, lutando, gritando alto que a liberdade que temos em nós é maior do que qualquer aparato de força das tiranias. Sou um rebelado.”
“Vem, Maria, ouvir a minha história, para que eu vença o desespero e volte a ser, pelo menos por alguns momentos, compatível com minha existência de irredutível sonhador, de talvez impossíveis caminhos e esperanças.”
Ela não veio, nem a encontrei. O conto continua guardado, ninguém o leu, ninguém o ouviu.
Agora, talvez, apenas me reste deixar de escrever, mas lerei, atentamente, tudo o que escrevi, tornando-me o leitor que sempre me faltou.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fotografias do Hoje - Clair de Lune





Caros leitores,
Hoje não haverá longo texto, nem temas sérios! Ou melhor, quem disse que falar da lua não é um tema importante? Logo ela que inspirou e inspira os artistas da palavra desde sempre! Brincadeiras à parte, tomo emprestado o título de uma das belas obras musicais da história para homenagear este símbolo de inspiração; "Clair de lune" é uma das mais belas composições do francês Claude Debussy, que deverá ser ouvido neste link: http://www.youtube.com/watch?v=-LXl4y6D-QI , em concomitância a observação das fotos ora postadas, todas de minha autoria
Um abraço


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Relembrando de Pessoa - Liberdade e tabacaria

*direitos autorais reservados ao autor da imagem, desconhecido até esta data.


Caros leitores,

Hoje acordei lembrando-me de Fernando Pessoa! Em homenagem à esta lembrança, faço referência à dois de seus poemas que me agradam bastante: o primeiro, é o filho mais novo, que apresenta uma vontade minha nesta fase da vida, por ser um escravo do trabalho; o segundo, é o primogênito, que me impressionou pela sua profundidade existêncial, qualidade que o fez "morar" na cabeceira da cama.

Não quero mais disputar o espaço com palavras que os fazem disperdiçar o tempo em que poderiam se deleitar com tão belas palavras.

Por isso, até breve e um ótimo dia!


LIBERDADE


Ai que prazer não cumprir um dever.

Ter um livro para ler e não o fazer!

Ler é maçada,estudar é nada.

O sol doira sem literatura.

O rio corre bem ou mal,sem edição original.

E a brisa, essa, de tão naturalmente matinalcomo tem tempo, não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.

Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol que peca

Só quando, em vez de criar, seca.


E mais do que istoÉ Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças,

Nem consta que tivesse biblioteca...

________________________________________________________


Tabacaria (fragmentos)


Não sou nada.Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas

Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua

A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada

De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,

E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,

E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Gênio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,

E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.

Não, não creio em mim.

Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?

Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo

Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,

E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,

Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;

Serei sempre só o que tinha qualidades;

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,

E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,

E ouviu a voz de Deus num poço tapado.

Crer em mim? Não, nem em nada.

Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente

O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,

E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.

Escravos cardíacos das estrelas,

Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;

Mas acordamos e ele é opaco,Levantamo-nos e ele é alheio,

Saímos de casa e ele é a terra inteira,

Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei

A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,

Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,

E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,

Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,

Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,

Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,

Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -

Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!

Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco

A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,

Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,

Vejo os cães que também existem,

E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);

Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo

E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,

Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo,

Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Essência musical dos meus versos inúteis,

Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo,

Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Cartas ao mundo - Money for nothing

"O grito" - também de Munch


Hoje me deu vontade de falar de economia misturado com rock and roll, pois o peso do assunto é igual a batida do rítimo; mas, para não atrapalhar estas divagações monetárias, escolhi a musica "Money", de autoria de controvertida figura, Mr. Roger Waters, letrista maior do Pink Floyd, uma das minhas bandas de rock preferida. A escolha não foi por qualquer razão, mas, principalmente, por ser uma música legitimamente inglesa, pais que integra a "zona euro".

Alusões a parte a outra banda, Dire Straits, que nos embalou por diversas vezes nas discotecas juvenis com o clássico "Money for nothing", cuja letra em nada tem haver com o texto que inicio, salvo pela sábia expressão de que dinheiro não vale nada!

Antes de adentrar ao mérito, quero fazer referência ao fim do século passado (como parece longe); em especial, as grandes crises econômicas que todos os países sofreram desde 1998, período em que passei a observar com maior atenção aos jornais especializados, escritos ou televisados, como Valor Econômico, (finada) Gazeta Mercantil e Conta-corrente (net), através de onde escutei, por inúmeras vezes termos como déficit, corrida aos bancos, liquidação e, principalmente, risco sistêmico (nunca consegui entender o que era, sei que era para prejudicar o sistema financeiro).

Nestes dois anos, as grandes notícias versam sobre a fraude milionária no sistema bancário americano, o desemprego, desvalorização de moedas e combate ao déficit público... Como se constata, são notícias requentadas desde sempre, oriundas de sistemas de controle econômico efetivos e rigorosos, inclusive no âmbito criminal, posição defendida por mim na monografia acadêmica que tratava do projeto de lei n° 4.376/93, que reformou a lei de falências, onde me posicionei com firmeza em relação ao extremo rigor que se deveria ter em relação ao devedor fraudulento.

Adam Smith deve estar se remexendo em seu túmulo, pois a sua teoria de auto-regulação dos mercados tem grandes falhas, só sendo possível considera-la se todos os integrantes do mercado fossem pessoas sem qualquer interesse de lucro selvagem.

Da mesma forma, Roberto Campos também deve estar assim! Os mercados devem ter liberdade vigiada!

O que é fato, é que os países de Comunidade Européia estão baixando pacotes com medidas, muitas impopulares, para melhorarem suas contas, o que deverá, a princípio, implicar na alteração desses programas de salvamento, como foi o PROER, que, no interesse de evitar o risco sistemico no sistema financeiro nacional e considerado modelo entre os economistas, pelo que temos que não haverá a mão do estado para salvar mais os gestores ineficientes ou fraudulentos.

Ai, fica-se a pergunta: por que estes países não endureceram antes? Precisava esperar tanto? A cruel realidade hoje é a de desemprego assustador e estados à beira da bancarrota.

É assim mesmo, política é política em todo canto; por isso, acho desnecessário mais comentários sobre estas razões.

Agora, todos viram que é necessário deter as rédeas do mercado, medida contrária o pensamento do "lassez faire", mesmo que o controle estatal seja realizado de forma secundária, através das famosas agências (cuja finalidade é discutível) , bem como através de penalidades rigorosas aos operadores descompromissada de muitos operadores, fato este que nos Eua implicou na criação da "SOX" - Lei Sarbannes-Oxley e na prisão de Bernard Maddof e que não evitou a crise do "sub-prime", hipotecas de risco, cuja dolorosa lição ainda é aprendida pelos americanos.

Em nosso país, em que pese sermos referência na gestão dos mercados, ainda falta muita coisa, principalmente no que tange a regulação e penalização dos operadores, e, ainda, não há interesse da administração em agir, à curto prazo, com medidas neste sentido.

Aliado nefastamente a isso, ainda temos uma política de estado que precisa rever seus gastos, para evitar um tsunami financeiro nas contas públicas, mantendo assim a nova posição do FMI, de quem hoje somos credores e que suas medidas amargas não sejam mais implementadas aqui novamente.
Acho que apenas está faltando um dispositivo que permita ao estado tomar o controle destas empresas cuja saúde financeira não seja boa, antes de sua quebra, conforme entendimento do princípio constitucional da função social da propriedade, para que todos nós tenhamos que pagar a conta, e os especuladores possam viver felizes para sempre com os recursos do tesouro.
Talvez as gerações mais novas não conheçam o que seja "overnight", dólar a R$ 4,00, "gatilho", e por isso, não estejam muito preocupados com isso! Fica a provocação!
Viva o consumo responsável, poupança e os mercados regulados!
Depois de provocados, fiquem com este grande sucesso do rock mundial, que integra o disco mais vendido na inglaterra desde seu lançamento, o famosíssimo "the dark side of the moon", ao som do Pink Floyd, para que todos possam refletir sobre a matéria

Money - Roger Waters

Money, get away.
Get a good job with more pay and you're okay.
Money, it's a gas.
Grab that cash with both hands and make a stash.
New car, caviar, four star daydream,
Think I'll buy me a football team.
Money, get back.
I'm all right Jack keep your hands off of my stack.
Money, it's a hit.
Don't give me that do goody good bullshit.
I'm in the high-fidelity first class travelling set
And I think I need a Lear jet.
Money, it's a crime.
Share it fairly but don't take a slice of my pie.
Money, so they say
Is the root of all evil today.
But if you ask for a raise it's no surprise that they're
giving none away.
"HuHuh! I was in the right!"
"Yes, absolutely in the right!"
"I certainly was in the right!"
"You was definitely in the right. That geezer was cruising for abruising!"
"Yeah!"
"Why does anyone do anything?"
"I don't know, I was really drunk at the time!"
"I was just telling him, he couldn't get into number 2. He was asking
why he wasn't coming up on freely, after I was yelling and
screaming and telling him why he wasn't coming up on freely.
It came as a heavy blow, but we sorted the matter out"

segunda-feira, 5 de julho de 2010

As feras mortas - Maximiano Campos




Atendendo a pedidos, publico, nesta ocasião, o conto "as feras mortas" de autoria do escritor pernambucano Maximiano Campos, um dos mais expressivos integrantes da "geração de 65, meu "patrono" na cadeira de n° 20 da Academia Camarajibense de Letras.


É o texto:


As feras mortas


Você pode dizer que é mentira minha. Quem sabe? A verdade é que estou sendo perseguido. As notícias dos jornais falam de misérias. Alguns amigos se afastaram, arrebentaram-se algumas esperanças. No rastro dos meus fracassos, chegou a angústia endemoniada. Mas, o pior é o tempo que me persegue. O tempo anda me perseguindo. O tempo do relógio, o que me escraviza na repartição, e o outro: o tempo comum a todos nós, espectadores dos grandes desassossegos da ambição universal que, às vezes, assume a forma de massacres, guerras, explosão de ódios, como espasmos epiléticos da humanidade. O tempo é um calhorda, tanto serve a Deus quanto ao Diabo. Você está rindo, mas eu lhe digo: o tempo é um assassino perigoso. Mata a mocidade, desejos, amizades, depois, na velhice, dá o golpe final no que resta de nós. Meu amigo, a realidade nem sempre é a verdade. Além do mais, cada qual tem a sua. Sabe de uma coisa? A realidade também anda me perseguindo. Agora é que você vai rir mesmo, mas vou lhe dizer: eu sou o que sonho. Eaqui, nesta sala, o meu sonho anda solto, fera liberta, desembestada em descampos sem cerca nem dono. A realidade quer arrebentar comigo. Mas eu vou me proteger com o sonho. Esse vai ser o meu castelo, nele vou colocar o mundo verdadeiro, o descompromissado com as etiquetas, os horários, as convivências interesseiras. É assim mesmo: a realidade quis me fazer medo. O tempo quis e quer acabar comigo. Sei que há dois grandes circos armados por Deus: o da vida e o da morte. O danado, mesmo, é o preço que se paga para tomar parte no espetáculo. Os que têm fé afirmam que o circo da morte é limpo asseado. Mas ninguém, ainda, conseguiu sair dele e voltar para contar aos que estão no circo da vida como é o espetáculo. Pode até ser o silêncio. Não sei porque, mas acho que o tempo é um palhaço maldoso e meio sem graça. E a realidade é uma velha atriz cansada, com uma maquilagem agressiva e a mania de dar más notícias. E a nossa atuação nisso tudo? Nisso tudo não, no circo da vida. Obrigam a gente a entrar na jaula do leão, dar saltos mortais, aplaudir o palhaço, ser o palhaço, e tudo isso sem repouso, mudando sempre de lugares. Pois bem, não saio mais desta sala . Sei que o tempo não é um cão que a gente enxote com facilidade, nem a realidade apenas uma percepção, espécie de fotografia da obra de Deus. Fechei os olhos para toda essa farsa. Sonho. Pra mim, sonhar é que é viver. Olhe: esta casa tem duas salas: numa coloquei o passado, noutra, o futuro. O presente não me interessa muito. Além do mais, o presente é feito água de rio, quando a gente vê já passou. E nunca se pode distinguir a que passou da que está passando e da que vai passar; o importante é o rio. Naquela sala, ali em frente, há dois retratos: um de Napoleão e outro de César. Todos os dias eu indago a eles: "Onde está agora o poder de vocês"?
- E o que é que eles lhe respondem?
- Você está querendo fazer deboche. Não o chamei aqui. Eles não respondem nada. Claro que não poderiam responder, a realidade não deixa que eles respondam.
- O que é que a realidade tem a ver com isso?
Tem a ver que a realidade não vale grande coisa. Olhe, você não devia estar aqui conversando comigo. Você só acredita... Bem, mas não quero julgá-lo. A realidade é o que estou conversando com você, os móveis que você está vendo ao meu redor, a hora que o seu relógio está marcando, as minhas feições, o timbre da minha voz. Mas o meu sonho você desconhece. Bem, deixemos isso pra lá. Napoleão e César estão perdidos, um apunhalado, e o outro dizem que foi envenenado.
- Você está um bocado confuso. Não estou entendendo direito o que está querendo dizer.
- Ah, você está dizendo que me acha confuso. Não foi isso o que quis dizer? Como? Não compreende o que estou falando? Mas não me preocupo com essa sua opinião. O que mais exige compreensão é a realidade, e esta também me persegue, essa miserável. O meu sonho? Olhe, para pessoas feito você, que vivem a fazer perguntas e indagações, os sonhos são feras mortas. As explicações, às vezes, matam. Mas você não vai matar os meus sonhos. As minhas feras estão vivas e libertas, correndo nos descampos ensolarados da imaginação. Sei que, um dia, os meus sonhos serão feras mortas. Mas eu carregarei comigo estas feras até que o tempo coloque cercas nos descampos e apague todas as lembranças. Um homem vale o que valem as suas feras.
Não me faça mais perguntas, você está atrapalhando tudo.
- Mas, você mesmo, no início da conversa, se queixou de que estava perdendo alguns amigos. Pensei que você estava precisando de apoio.
- Olhe aí, você querendo botar lógica nas minhas palavras. Você não tem nada a ver com o que eu digo ou deixo de dizer.
- É, acho que vou embora. Lamento muito ter encontrado você neste estado.
Foi embora. O sujeito que estava conversando comigo foi embora. Mas eu ainda estou falando. Continuo a falar. Que importa que não estejam me escutando? Agora mesmo vou colocar outra pessoa para me ouvir. Pronto, outra pessoa já está aqui na sala. Vou botar essa outra pessoa para conversar com Napoleão e César e ficar ouvindo a conversadeles. A pessoa está dizendo que não precisa conversar diante dos retratos. Tem razão. Os dois guerreiros já estão aqui, na sala, e começaram a conversar com o visitante. Já estão discutindo há duas horas. Vou entrar na conversa: daqui a pouco, eles se atracam. A conversa está ficando desagradável porque a ambição deles já está aparecendo. E, vou acabar com essa conversa. A ambição é danada de parecida com a realidade e a realidade é minha inimiga. O meu sonho agora está liberto e o meu silêncio me apazigua. O meu silêncio, essa fera de estimação. Mas por favor, não zombem. Volto a apelar: acabem com esses risos! Continuam rindo? Pois bem, os retratos estão nos seus lugares, ninguém conversou nada. É isso que querem que eu diga? E o meu silêncio? Ah, está solto no sonho, nesse descampo ensolarado, nessa imensidão das impossibilidades conquistadas porque imaginadas. A conversa pára aqui. Mas, na verdade, ela continua, e as feras viram rebanhos, o tempo acovardado vai fugir. O tempo é um covarde, foge sempre, arrastando a mocidade. Estou sonhando, por isso me calo. Os pensamentos partem na imaginação rumo ao outro circo. Vou entrar lá, vou entrar naquele circo, no outro, onde os espetáculos não devem ter tristes intervalos. O intervalo, o último, é agora, pronto, já estou prestes a ultrapassá-lo. Depois, talvez meus amigos entendam que não quis ofendê-los, é que o outro circo estava abrindo para mim as suas portas. E a morte é a única certeza que pode trazer alguma novidade.
in Diário de Pernambuco, 20/09/98

Maximiano Campos nasceu no Recife, em 1940, e morreu no mês passado. Começou a escrever muito cedo, no Colégio São João, onde fez os estudos secundários. No final da década de 60, publicou o seu primeiro romance, Sem Lei Nem Rei, transposto para a música por Capiba, com um longo prefácio de Ariano Suassuna, que analisava as qualidades de sua obra e o desenvolvimento da literatura nordestina.
Na década de 70, publicou o livro As Emboscadas da Sorte, onde se encontra o conto Na Estrada, um dos seus melhores trabalhos literários e dos momentos mais altos da literatura brasileira. Em 75, a Editora Artenova, do Rio de Janeiro, publicou a novela Major Façanha, que se transformou, imediatamente, num sucesso de crítica e de público. A Memória Revoltada foi publicada no início dos anos 80, pelas Edições Pirata, em co-edição com a Civilização Brasileira.
Entre os seus escritores estrangeiros preferidos estão Hemingway, Nikos Kazantizakis e Tolstoi; e entre os brasileiros, Ariano Suassuna, José Lins do Rego eGilberto Freyre. Escreveu um longo ensaio para o posfácio do livro A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, saudando as qualidades do autor de O Auto da Compadecida. Tem contos publicados em várias revistas e antologias brasileiras, além de livros para-didáticos. Entre as editoras nacionais que publicaram os seus trabalhos ficcionais estão a Brasiliense, a O Cruzeiro, a Artenova e Atual, todas do eixo Rio-São Paulo. Costumava escrever todos os dias. Publicou duas antologias e deixou muitos contos inéditos.

sábado, 3 de julho de 2010

Ensaios do Exílio Interior - Do tempo, dos sonhos e outras coisas...

"A dança da vida" - Edward Munch

"(...) E a nossa atuação nisso tudo? Nisso tudo não, no circo da vida. Obrigam a gente a entrar na jaula do leão, dar saltos mortais, aplaudir o palhaço, ser o palhaço, e tudo isso sem repouso, mudando sempre de lugares(...) Maximiano Campos, in "as feras mortas".
De início, quero dividir com vocês, meus caros amigos, obras de autores de minha preferência; O primeiro, Edward Munch, pintor australiano, bastante atuante nos penúltimo e último século, autor de uma das obras mais conhecidas no mundo, chamada "o grito", quadro que gostaria que estivesse em minha sala de leitura no futuro; O segundo, Maximiano Campos, escritor pernambucano, que aprendi a admirar na minha adolescência por seus contos, que eram retratos do que também entendia ser o mundo, quase sempre mostrando o ideal existencialista e, principalmente, mostrando o poder do sonho, "esta fera liberta", o que gosto de ter, sempre que me é possível.
Meus caros, não tenho muito o que falar por hora, mas...
Hoje acordei-me com mais de 30 anos, com um rebanho de sonhos para a vida e ouvindo sempre vozes de que, sonhar é coisa de quem é "burro", pois um advogado ou professor que o faz, assim o é! Em que pese todo o bem querer que tenho a pessoa que me proferiu estas palavras, discordo de seu pensamento. A vida é muito dura, cheia de sofrimentos e ausente de freqüentes alegrias, pois somos obrigados a agir como no fragmento a que fiz referência.
E viver assim "não é brinquedo não!"...
Bem-aventurados os que sonham, pois, por alguns momentos, podem fazer unir pessoas distantes, mudar realidades e ter alguma felicidade no meio do turbilhão de infortúnios que a vida vive colocando em nossos caminhos...
Só assim posso me ver dormir com a cabeça no colo das minhas avó e bisavó, que me faziam dormir, de rever situações do passado que me deram uma alegria inesquecível, de me ver naquelas férias maravilhosas que vivo a planejar, de estar dançando ao som do velho Charles Aznavour, de estar conversando com Fernando Pessoa, Albert Camus e o próprio Maximiano numa mesa de bar... É, também, uma forma de "matar" as saudades, fazendo "próximos os distantes" de nós, sejam vivos ou mortos...
De fazer com que a ausência seja uma palavra esquecida... Por isso, sonhar não pode ser entendido como perda de tempo...
Por isso, meus amigos, aproveitem este dia insoso que é o domingo e sonhem-se na "dança da vida", usufruindo o que ela tem de melhor!
Mas não esqueçam de viver! A vida continua...
bom domingo e boa semana!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Fotografias do hoje - As cores do sertão I

Bom dia, caros leitores,

Apresento-lhes algumas das fotos feitas por mim em minhas andanças pelos sertões, para que todos possam conhecer todas suas cores.

Um abraço!
















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