sexta-feira, 23 de julho de 2010
Manuel Bandeira - Mascarada e Maysa
Caros amigos,
Continuo com a vida bastante atribulada, por isso, para homenagear sua leitura neste blog, continuo a postar textos de grandes autores. Nesta ocasião, posto dois poemas de Manuel Bandeira, escritor pernambucano que dispensa qualquer comentário acerca de sua obra. O primeiro, é "mascarada", onde encontramos uma bela construção de texto; o segundo, "Maysa", onde faz uma referência a cantora Maysa, cuja história foi narrada recentemente pela televisão.
Um Abraço
MASCARADA
Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)
- Você me conhece?
- Não conheço não.
- Ah como fui bela!
Tive grandes olhos,
Que a paixão dos homens
(Estranha paixão!)
Fazia maiores,
Fazia infinitos...
Diz: não me conheces?
- Não conheço não.
- Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
À tua visão!
Tu não me escutavas:
Perdido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia...
Era a minha fala
Canto e persuasão...
Pois não me conheces?
- Não conheço não.
- Choraste em meus braços...
- Não me lembro não.
- Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!
Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?...
- Não conheço não.
Conheço é que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço é que a vida,
A vida é traição.
Para ouvir: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=7373
MAYSA
Um dia pensei um poema para Maysa
“Maysa não é isso
Maysa não é aquilo
Como é então que Maysa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza?
Muito simplesmente
Maysa não é isso mas Maysa tem aquilo
Maysa não é aquilo mas Maysa tem isto
Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não-Pacíficos
A boca de Maysa é isto isso e aquilo
Quem fala mais em Maysa a boca ou os olhos?
Os olhos e a boca de Maysa se entendem os olhos dizem uma coisa e a boca de Maysa se condói se contrai se contorce como a ostra viva em que se pingou uma gota de limão
A boca de Maysa escanteia e os olhos de Maysa ficam sérios
Meu Deus como os olhos de Maysa podem ser sérios e como a boca de Maysa pode ser amarga!
Boca da noite (mas de repente alvorece num sorriso infantil e nefano)”
Cacei imagens delirantes
Maysa podia não gostar
Cassei o poema.
Maysa reapareceu depois de longa ausência
Maysa emagreceu
Está melhor assim?
Nem melhor nem pior
Maysa não é um corpo
Maysa são dois olhos e uma boca
Essa é a Maysa da televisão
A Maysa que canta
A outra eu não conheço não
Não conheço de todo
Mas mando um beijo para ela.
Para ouvir: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=7372